sábado, 14 de dezembro de 2013

Foto de um dos grandes ídolos do Galo da Comarca: João Baptista Nascimento, ou só João Gostoso na vida futebolística, jogou de 1926 até 1948, portanto, 22 anos no XV, participando de 414 jogos e marcando 235 gols. Um nome, entre outros, que será sempre lembrado.Na foto até o galo foi colorizado nas cores tradicionais.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013


Formação do Galo no jogo em que subiu para a divisão maior do Campeonato Paulista. Os nomes estão na foto. Assisti esse jogo quase de dentro do campo. Foi muita emoção, tal qual quando subimos pela primeira vez em 1951. Pena que a foto não esteja perfeita.

sábado, 16 de novembro de 2013

            Jaú, 24 de janeiro de 2010


Prezada Senhora Dona Lydia

Querida esposa

Hoje, dia 24 de janeiro, estamos completando cinqüenta anos de casados. São cinqüenta anos de convivência fraterna, (às vezes nem tanto por minha culpa) nos quais pudemos realizar alguns de nossos sonhos, ter nossos filhos, nossos netos e poder ajudar a eles até materialmente que sempre foi meu desejo. Trabalhar, galgar postos mais altos possíveis, com melhores ganhos, para poder ajudar na hora em que eles precisassem. E você é testemunha de que fizemos o máximo por eles. Não é o caso de se dizer aqui o quanto fizemos. O que importa para nós é o que foi feito. E quanto lutamos. Juntos. Com muitos e muitos acertos e também alguns tropeções pelo caminho. Com muitos erros e muito recomeço. Mas como é bom lembrar as boas e grandes emoções que sentimos pelo caminho. O primeiro grande momento de emoção foi nosso casamento com a presença de três padres no altar oficiando a cerimônia. Jamais vi um casamento com tanta gala. Infelizmente não temos as fotos. A segunda grande emoção foi o nascimento do primeiro filho, embora os momentos de aflição que você passou, ficando no hospital por quase um mês. O nascimento da Lúcia foi outro momento de grandioso contentamento. Os momentos de alegrias com suas formaturas no primário e na Academia. O casamento da Lúcia, tão novinha, e depois a espera por dois anos pelo Roberto primeiro neto, depois a Lidiane e o Rodrigo.  Grandes momentos de alegria. E depois, recentemente, grande momento de dor tivemos que passar pelo falecimento da Lúcia. Aqui você demonstrou uma força imensurável. E, quanta dedicação de você para criar os filhos e os netos. Especialmente os filhos. Só quem conviveu com você para saber o que foi sua vida de dedicação à família. Eu diria até que não foi uma dedicação, foi uma devoção. Quanto desvelo e carinho você dedicou a eles. Você é uma mulher forte, abençoada por Deus. Igual a você talvez tenha alguma mulher no mundo, mas melhor que você só a Mãe de Cristo.

Vejo em mim muitos defeitos (alguns incorrigíveis, cavalo velho não pega andadura), mas tenho me esforçado para ser o melhor possível. Talvez  não tenha te dado tudo o que você merecesse. Mas me esforcei, especialmente no campo material. Você sabe o quanto me dediquei para proporcionar á minha família tudo de bom. Algumas coisas poderiam ser feitas de outro modo. Outras nem precisariam ser feitas. Outras poderiam ser feitas e não foram. Enfim, se passaram cinqüenta anos, de muitas lutas, muito trabalho. Fomos e somos felizes comemorando ao nosso modo: dedicando-nos á nossa família.
Que Deus nos abençoe e nos dê vida longa.
Obrigado.

Geraldo


Jaú, 24 de janeiro de 2010.


terça-feira, 29 de outubro de 2013

Essa foto, conforme consta nela, foi de uma vitória do Galo sobre o Noroeste.  Desses jogadores conheci bem, no campo e fora dele, o Baguá, o Antonião e o ídolo maior da cidade, Alceste Madela Neto.
Essa equipe do XV de 1941. Há dois jogadores que não foram identificados e alguns deles cheguei a conhecer muitos antos depois dessa data. O Spoldari, o Dornelas, o Carvalho com quem tive amizade e o Botter também. Note como era o campo do XV. Sem alambrado, nenhuma cerquinha a separar a torcida do campo de jogo. Resta a saudade, especialmente dos familiares desses cidadãos.

domingo, 13 de outubro de 2013


Mais uma formação do "Galo" de 1951. Desse time o Clóvis foi jogar no Fluminense do Rio. Américo passou pelo Palmeiras e grandes time do Brasil e jogou na Itália. Era bom de bola pra caramba" O Duvílio tinha um petardo no pé esquerdo. O Itamar era o sacrificado desse time. O que a torcida pegava no pé do coitado dava dó. Jogar como ponteiro ainda mais no Arthur Simões que o gramado ficava  um metro do alambrado.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O texto na foto já o diz. Como jogava bola esse time. Todos mais ou menos de minha idade na época. O Wilson Lima que o Pai o chamou faz pouco tempo. E o Bóris, como jogava! Zé da Chiquita.
Quem os viu jogando, matem a saudade; quem não os viu, perguntem aos que os viram jogar.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

quinta-feira, 26 de setembro de 2013


Uma das formações da equipe do Galo que disputou o acesso para a Primeira Divisão

domingo, 22 de setembro de 2013

Galo de 1935



Time do Galo em 1935. Postagem em homenagem ao ao Senhor Brasílio Raul Américo. Na foto é o que está agachado apoiado no joelho esquerdo. Seu apelido era General e é simplesmente o pai do jogador Edu (Jonas Eduardo Américo) do XV, do Santos e da Seleção Brasileira. Outros de seus filhos Vicentinho e Zizico foram bons de bola.

Belo trabalho de restauração feita por alguém que desconheço. O time do XV em 1942. Velhas lembranças da infância.

sábado, 21 de setembro de 2013





Algumas fotos do velho Estádio Arthur Simões. Que bom que alguém fotografou!

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

"Som Mutante": Homenagem ao amigo e professor "Antonio Celso"

"Som Mutante": Homenagem ao amigo e professor "Antonio Celso" . Quero que saiba que em sua terra natal entre os milhares de admiradores de seu trabalho, estou incluído. Seu blog já esta em meus favoritos. Saúde e paz para ti e os teus.

sábado, 14 de setembro de 2013















Ypiranga e Guarany em fotos de saudade.
Esta última foto é do time entrando em campo no velho Estádio Arthur Simões. Agradeço ao Aldo Musegante por ter cedido as fotos.


Mais uma foto do time da Associação Atlética Palmeiras de Jaú. Tambem sem data.

Associação Atlética Palmeiras de Jaú. Não tenho o ano da foto.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013



Foto tirada em 1959. O Pároco da Matriz de S.Sebastião, Padre Spirito Sevega e as Filhas de Maria. Note que a Igreja estava em construção. O Padre Spirito é religioso do Instituto Missões Consolata que na época trabalhava em Jaú e a quem se deve a construção da Igreja, junto com Padre Augusto Sani.


Homenagem para alguns que já foram junto ao Pai.Segundo quadro da Congregação Mariana da Matriz de São Sebastião. De pé: Lourenço, João Avelino, seu irmão, Geraldo Avelino, Armando, Airton, Geraldo, Tau e Osvaldo. Agachados: Vicente Américo, Nelson, Hildebrando, Alcyr e Adriano. O campo, onde é hoje a Praça Lopes Rodrigues.


Alice, minha primeira bisneta. Agradeço a Deus a graça de conhecê-la.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A primeira vez que vi Raquel

1 -
A primeira vez que vi aquela menina foi num baile na Tuia da Fazenda Saltinho.
Nos meus quinze anos, era meu primeiro baile prá valer já com interesse nas mocinhas que eu começava a cortejar. É claro que eu tinha amizade com algumas garotas das fazendas vizinhas do sitiozinho onde eu morava, mas as via realmente como meninas.
Antes dessa data, eu ia aos bailes pra ficar perto do sanfoneiro vendo e ouvindo a “oitenta baixos” resfolegar, ás vezes um violão a acompanhar e, por falta de pandeiro, um par de colheres a estalar. Aquele som da sanfona cativava e entorpecia meus sentidos que, para mim, no momento, só existia aquele som.
Mas, nessa noite, depois de ter tomado um belo banho na pequena cachoeira que tinha na fazenda, e depois de muito me aprumar, vesti minha melhor roupa e resolvi me divertir. Essa melhor roupa era simplesmente uma calça azul de brim e uma camisa de mangas curtas numa cor que eu chamaria de azul claro. A calça de brim era de um tecido meio grosso que quando roçava uma perna na outra, ao andar, fazia um barulho esquisito. O calçado um tipo de sapatão, de couro grosseiro, meio amarronzado, até pelo tempo de uso nas estradas poeirentas.
Eu não me achava feio, mas era tímido, até pela idade e, meio sem jeito, cheguei á tuia e demorei a entrar. Fiquei parado na porta só observando o movimento lá dentro. Fui entrando aos pouquinhos que era pra não me assustar, um pouquinho mais pra frente, um passo mais acolá, até que por fim estava lá dentro perto da moçada, os homens prá cá e as mulheres prá lá, do outro lado. O pessoal só se juntava a hora que a sanfona começa a tocar. Mas depois que acabava a dança, cada qual pro seu lugar, não tinha essa de  o par ficar conversando tentando segurar a dama para a próxima dança. Os únicos pares que ficavam juntos eram os casais firmes, aqueles que já estavam namorando, com autorização dos pais. Os tímidos e imberbes como eu ficavam no fundo do salão como que estudando as meninas de nossa idade, igualmente atrás encostadas na parede de tuia ou sentadas, já que era comum bancos para as damas sentarem. Esses assentos que tinham lugares para três ou quatro pessoas eram emprestados pelos moradores da colônia. Os candidatos á dança  ficavam  na marcação de sua dama e mal o primeiro toque no teclado era aquela correria, para que ninguém tirasse sua escolhida. E o sanfoneiro sabedor disso dava um toquezinho e parava. Aí os apressadinhos tinham que voltar pro seu lugar. Não se sabe se o fazia por malícia ou se era simplesmente uma maneira de escolher qual seria a música a ser tocada. Era um sufoco. E não era permitido dar “taboa”, o que significava que a dama não podia recusar uma dança, fosse qual fosse o cavalheiro. Se ela recusava, recebia um castigo de ficar sem dançar por certo tempo. Mas acredito que houvesse um jeito de combinar, de furar essa situação, pois eu notava que certas moças ficavam quase de costas para os cavalheiros, ficavam um pouco mais pra trás, fazendo de conta que não iam dançar, aí, um pouco no retardo, o cavalheiro saia para tirar a sua dama. Isso se percebia que era combinado, pois, em muitas contradanças, os pares se repetiam ao voltearem no salão, até porque, após algumas danças, já estava mais ou menos definido o jogo da sedução. Mas havia também o momento do lenço que consistia em se pendurar um lenço no lampião de querosene; isto significava que não mais o cavalheiro tirava a dama e sim esta escolhia com quem ela queria dançar. Aí ficava caracterizada a preferência da moça por um determinado cavalheiro, nascendo assim os namoros.
E foi apreciando esses exercícios de conquista, quando as moças saíram para a dança, reparei lá atrás uma  menina que não saia para dançar. No primeiro olhar, uma chama já faiscou em meus olhos. Fiquei encafifado e comecei a fitá-la até que uma hora nossos olhares se cruzaram. Ela abaixou a cabeça, meio envergonhada. Talvez fosse também seu primeiro baile, quem sabe em busca de um namorado. E assim passei boa parte da noite a flertá-la. E como era difícil encontrar uma posição para ficar ali postado, de pé, uma hora enfiando a mão no bolso, outra encostando levemente na parede da tuia. De tanto admirá-la, pude notar que não era muito alta. Talvez um metro e sessenta e cinco imaginei. Cabelos cortados até o ombro, meio cacheados e que caiam sobre a face quando ela os balançava ao falar com alguém. Usava um vestido rodado, estampado com algumas listas e flores ou algo parecido. Na cintura, trazia um cinto do mesmo tecido do vestido com uma bela fivela. O cinto apertado destacava a fina cintura e o corpete do vestido sem decote, também justo, realçava seu busto.
Como eu não dançava ficava  difícil a empreitada. Como chegar à menina? Que desculpa eu daria? E mesmo porque nesses bailes, além da mocidade em pé de guerra nas conquistas amorosas, havia também as comadres casadas que acompanhavam as meninotas tal qual aquela carinha de anjo. E se o pai dela estivesse lá? Quando se tratava de paquerar sua filha os pais da década de quarenta não eram fáceis de encarar. Mas passei boa parte da noite sem saber o que fazer. Olhava na menina e ela olhava prá mim. E ficamos naquele flerte, silencioso, e carinhoso alheio ao que se passava ao meu redor.
No baile, estava também uma de minhas tias, solteira, irmã de minha mãe,  aliás, a única ainda solteira, caçula entre as mulheres, que é mais velha que eu oito anos e pouco. Durante as danças, nos momentos em que não estava dançando com seu par (ela já estava namorando firme), ela vinha conversar comigo e, ás vezes, até arrastava junto seu namorado.
Embora morássemos em fazendas mais ou menos próximas ficávamos sem nos ver por até duas semanas. E  num desses momentos  de intervalo, vi que minha tia estava conversando com a menina de meus olhos. Conversavam e pude perceber que ela olhava para mim, esboçando um sorriso que transformei numa esperança mais concreta.
Nos bailes nas fazendas havia o costume de se dar uma pausa para descanso dos músicos e isso ocorria sempre por volta de meia noite ou meia noite e meia. E é aí que chegou a hora do “anisete” ou quentão ou outra bebida preparada para servir aos presentes. Nada de grandioso  Isso se constituía no seguinte: os instrumentos musicais se calavam, o sanfoneiro ia pra cozinha comer alguma coisa e cada dama pegava um bule e alguns copos e ia servir aos cavalheiros a sua porção.  Foi a minha oportunidade. Embora  todo trêmulo, dei um jeito de esperar que o  meu copo fosse cheio pelas mãos da menina que eu tanto admirava. Desviei de uma e de outra que queriam encher meu copo  até que  ela chegou perto de mim. Estendi meu copo em sua direção sem muito estender o braço para obrigá-la a chegar perto de mim. Antes que o líquido atingisse meu copo alguém passando por mim, num leve toque, desequilibrando-me fez com que o líquido fosse ao chão. Foi o que me salvou. Demos risada um pro outro e, com mais cuidado, meu copo ela voltou a encher.  Foi o máximo que pude fazer naquele baile. Mas essa passagem ficou marcada mais devido ao inusitado e lirismo da cena. Passamos o resto da noite a nos entreolhar. Lá pelas quatro horas quando o baile chegava ao fim esperei para ver com quem ela ia embora. Saiu uma turma que parecia ser seus irmãos, talvez pai e mãe e outra mocinha que eu já conhecia de vista, provavelmente colega da mesma fazenda.
Como o baile não era muito distante de onde eu morava, fui para casa andando nas nuvens, meus pés nem pareciam tocar o solo, era como se estivesse planando, voando. Na  verdade eu flutuava. Na cabeça mil pensamentos a volitar e aquela imagem viva na retina que eu esforçava-me para não deixar esvanecer. Mal pude dormir quando fui para a cama às quatro e meia. Passei  o resto da noite pensando na menina, ou melhor, o restante de uma hora pois eu tinha que levantar dai há pouco, as cinco e meia para rumar para a mangueira tirar o leite das vacas, que era minha tarefa.
As duas semanas que se seguiram não foram nada fáceis. Não tirava da cabeça a imagem da menina por um instante e não pude falar com minha tia para saber alguma novidade, alguma coisa do que elas teriam conversado na noite do baile.
No domingo seguinte, pela manhã, bem cedinho, arriei um cavalo que era de meu tio, com quem eu morava, e fui até a casa de meu avô falar com minha tia que me disse que a Raquel (esse era nome da menina), havia se interessado por mim, perguntando meu nome, onde eu morava e mandando um recado de que iria à missa que era celebrada mensalmente no bairro, portanto no próximo domingo.
Devo dizer que essa informação deixou-me feliz, sobressaltado e esperançoso. Passei a semana contando os dias que faltavam para domingo.  Como demorou a passar a semana! Eu ia contando os dias, hoje é segunda, terça e, assim por diante, até que chegou o esperado domingo.
Era costume todos os meses participar da missa do bairro, mas, naquele domingo, o que eu pensava mesmo era na Raquel. Levantei como sempre de madrugada, bem antes de o despertador tocar e tomei o rumo da mangueira para a ordenha das vacas.  Após esse trabalho, fui tomar meu banho na cachoeira, vesti minha melhor roupa, arriei o cavalo e fui para o vilarejo para assistir a missa. Procurei um lugar bem próximo onde Raquel estava. Terminada a missa o pessoal ficou batendo papo em grupinhos nas proximidades e cheguei perto onde Raquel estava conversando com minha tia. Cumprimentamo-nos, dei a mão a ela e procurei alongar um pouco o aperto de mão. O trecho do caminho na volta era comum a nós dois e por isso fui a pé, puxando o cavalo pelas rédeas, até chegar à porteira da entrada da fazenda onde ela morava. Paramos um pouco e quase nada conversamos, pois estava muito difícil encontrar assunto. Pensava numa coisa para falar, mas não achava as palavras até que lembrei de elogiar seu vestido com que estava no baile, que ela estava muito bonita naquela noite. E foi só. Despedi-me, com um longo aperto de mão, esperei que ela  passasse a porteira, montei em meu cavalo e fui para casa.
Acho que devo fazer uma pausa nesse enfoque para fazer uma explicação sobre o fato de estar morando com um tio como dito acima. Nós éramos uma família de seis pessoas, pai, mãe e quatro irmãos, todos homens. Meu pai vinha de uma família que trabalhava como administradores das fazendas em que se ajustavam para trabalhar. Meu pai era administrador e ao mesmo tempo dirigia os veículos que houvesse nas fazendas. Lembro um pouco de meu pai no volante de um caminhãozinho passando por nós, carregado com as mais variadas cargas da fazenda, sacos de café, de milho. Nunca deixava que nós andássemos na carroceria do caminhão; hoje sei que era perigoso. Minha mãe não teve oportunidade de estudar regularmente, pois, na década de 1920 até 1930, na zona rural, não havia escolas. O pouco que ela soube de leitura eu a ensinei quando eu já era um rapazote, ensinando-lhe inclusive a assinar seu nome.
Minha mãe casou nova, com dezoito anos. Teve um filho em janeiro de 1933, eu em novembro de 1934, outro em fevereiro de 1936 e o caçula em agosto de 1939. Quando meu pai faleceu em junho de 1940, eu tinha cinco anos e meio. Devido a essa idade, pouco lembro de meu pai. Lembro que ele me sentava em seu joelho e brincava de cavalinho com dois ao mesmo tempo, um em cada perna.  Ás vezes, nós íamos até seu trabalho na máquina de beneficiar café e ele brincava conosco no monte de café. Tomei algumas palmadas, se é que se pode dizer assim dada minha tenra idade. Como no dia em que descascando cana para chupar, a faca escapou da cana e cortei o rosto de meu irmão mais novo, na altura do queixo.  Outra vez, morando fazenda Pereirão, nos fundos da colônia passava um riacho que era cercado por arame farpado para impedir que o gado fugisse. Havia um barranco sem grama, totalmente liso e bem íngreme. Os garotos mais velhos tinham o costume de pegar as palmas de figo da índia, que são bem grandes, e lá em cima, sentar em sobre elas e escorregar morro abaixo. E lá embaixo havia a cerca de arame farpado. No momento em que estavam chegando á cerca eles brecavam a corrida forçando o dedão dos dois pés contra o chão. E conseguiam parar. Um dia, amolei tanto meu irmão mais velho que eu queria escorregar e ele atendeu meu pedido e me colocou em cima da palma. Só que, como era a primeira vez que eu deslizava, não consegui brecar, ou melhor, brequei até bem demais, cravando os dedões dos dois pés com tanta força que fui jogado contra a cerca, rasgando o peito e um pouco da face no arame farpado. Foi uma correria para rumar para a cidade para suturar o corte feito no peito. A cicatriz do peito permanece até hoje, passados 77 anos. Nesse dia quem levou as palmadas foi o mais velho.
Lembro muito bem o dia em que meu pai saiu de casa num carro, com a cabeça recostada atrás e pelo vidro trazeiro do carro segui sua figura até onde deu para ver o carro na estrada poeirenta. Naquela inocência de cinco anos nem sabia que meu pai estava doente. Foi a  última vez que o vi vivo. Daí só foi vê-lo depois de um tempo, sobre uma lousa branca na morgue do hospital e quando um adulto qualquer ergueu-me para beijar seu rosto magro e com barba. Parece-me que esse adulto teria dito "beija seu pai". Foi a última vez que o vi.
Confesso que hoje sinto mais saudades de meu pai do que na infância, pois, como já disse, na idade de cinco anos não podia avaliar o que seria viver sem um pai.
Continuei minha vida de criança vivendo os dias, semanas meses e anos sem sequer pensar em sua morte, como uma ausência, embora todos os anos nossa mãe nos levasse ao cemitério para uma visita ao seu túmulo que era uma cova na terra, marcada com uma cruz de ferro, feita pelo meu avô.
Após a morte do pai, fomos morar uns tempos com meu avô Marcioto numa fazenda na região. A fazenda Joanico era bem grande. A família do vô era bem numerosa. Tinha uma força de trabalho muito boa, composta por seis adultos, mais a criançada que, se não ajudava a carpir o café, servia para levar comida na roça e buscar água nas bicas ribeirinhas ou então para limpar o pé do cafeeiro nas colheitas dos grãos. Isso se resumia em levantar a “saia” do pé de café e com um pedaço de pau, ou uma vassourinha feita de ramos de bambu, afastar os grãos do tronco para facilitar o trabalho do adulto na hora de juntar os grãos com o rastelo.
Uma das bicas d'água, onde íamos encher os corotes, tinha em seu caminho uma árvore e se dizia que em sua sombra havia morrido uma pessoa. E nós tínhamos que passar em baixo dessa árvore para atravessar a pinguela, ou então dar uma grande volta para fugir da árvore.  E cadê a coragem para enfrentar a situação, mesmo durante o dia. E o danado do corote era pesado embora não o levássemos cheio. Como já disse, a família de meu avô era muito disputada pela força de trabalho e pela honradez que representava seu nome. O vovô Marcioto, nas horas de folga do trabalho na lavoura, era um exímio faz tudo. Era folheiro, colocando cabos em latas de óleo para servir de caneca. Era marceneiro, fazia mesas, cadeiras, mesas para cilindro de amassar pão etc.. Tinha sua oficinazinha da qual não deixava que as crianças se aproximassem. E, ainda sobrava tempo para pegar sua “oito baixos” e tocar algumas músicas trazidas da Itália, quando de lá veio, aos dezoito anos, já casado, para trabalhar nas lavouras de café na região de Torrinha. Na mesa farta, na sua simplicidade rural,  sempre havia o que bastasse para alimentar a todos. Com a criação de galinhas, sempre havia uma para ser sacrificada, além da produção de ovos.  Aliás, com tanta gente, precisava de dois frangos  em cada refeição que eram escolhidos enquanto dormiam no poleiro. Quando a Vó esquecia de pegá-los, havia um cachorro bem treinado que se encarregava de caçá-los e segurando-o  até que nós o pegássemos. Mas, com tantas bocas para alimentar, suas sete, mais cinco de nossa família, meu avô sentiu-se impossibilitado de continuar a nos dar guarida. É claro que não sei o diálogo que houve entre minha mãe e meu avô. Acredito que ele tenha explicado para ela a situação como  pai que era, que não dava mais etc.etc.  Foi aí que dei com a cara na cidade.
A mãe, sem nenhum estudo, mais três crianças para olhar e um para carregar no colo, chegou á cidade sem eira nem beira. Veio com a cara e sem muita coragem ela me disse muitos anos mais tarde.  Dois sacos com poucas peças de roupa era tudo o que trazia. Fomos abrigados na casa de uma família que cedeu o salão onde teria funcionado uma casa de comércio. Ali ficamos um tempo mudando-nos depois para um casebre de madeira num outro bairro da cidade, nos altos da Rua Governador Armando Sales. O piso da casa era de terra, com muitas frestas pelas paredes e no local onde as tábuas outrora tocavam o solo estavam carcomidas pelo tempo, deixando um vão que dava para passar um gato. Mas aí já era nossa casa, com banheiro fora, água suja correndo perto da porta. Dormíamos espremidos numa cama com o conforto que aquela alma forte podia nos dar no momento. Ela deve ter sofrido muito com isso e por isso. Muito do que sei ela contou-me anos mais tarde nas vezes em que tocávamos no assunto. Mas notava que não gostava muito de falar nesse passado que só lhe trazia tristes recordações. Eu também depois de adulto não procurava falar do passado para não vê-la sofrer. Acredito que deve ter sido angustiante, dolorido em todos os sentidos, até desesperador. Dores lancinantes, profundas a lhe machucar o corpo físico e espiritual. Quanto deve ter sofrido ao se defrontar com aquele caos em que se transformara sua vida. Que grandeza interior dessa mulher.  Nunca lembro de tê-la visto chorando ou maldizendo sua dita. Se chorava, chorava sozinha, as escondidas para não trazer preocupações para aquelas cabecinhas que só queriam brincar e comer, se houvesse comida.
O ser humano não consegue descrever suas emoções, sejam de dor ou felicidade, assim deve ter acontecido com essa mulher. As emoções você sente, mas não consegue traduzir em palavras.  As emoções formam-se num labirinto insondável da nossa mente e, ás vezes, nos fazem chorar e, outras, sorrir. E foi nessa nova casa que adoeci com tifo ficando internado na Santa Casa muito tempo. Também não sabia da gravidade de meu caso. Lembro que minha cama foi cercada e isolada por biombos dos demais doentes. Minha mãe passava todos os dias bem cedinho para ver como eu estava. Depois de algum tempo mudamos novamente para outro bairro num casebre um pouco melhor. Pelo menos o chão não era de terra e sim de cimento já gasto pelo tempo.
Passávamos o dia na “Casa da Criança” no regime de semi-internato. Entrávamos ás sete horas da manhã e saíamos as cinco da tarde. Na entidade, tomávamos o café da manhã logo na chegada, depois, ao meio do dia, havia o almoço e, antes de ir para casa jantávamos.
Não recordo muito bem, mas parece que entre o almoço e o jantar havia um lanche. Como o mundo estava em guerra, o cardápio não variava muito na “Casa da Criança”. Quando eu frequentava o primário fora da Casa, no “Grupo Escolar Dr. Lopes Rodrigues”, nós levávamos lanche. E, ainda havia a sopa no Grupo que uns tomavam e outros não. O Grupo ficava na esquina da Rua Aristides Lobo Sobrinho com a Tenente Navarro.
Devido á crise mundial, não se encontrava alimentos para comprar. O óleo e o açúcar eram racionados; precisávamos ficar na fila durante horas para se conseguir comprar um litro de óleo passado direto do tambor para o vasilhame que se levava de casa. Farinha também era racionada e igualmente só era conseguida mediante fila e um quilo por vez. O posto de venda ficava na Rua Visconde do Rio Branco nas proximidades do Mercado Municipal. Nós crianças ficávamos na fila guardando lugar para minha mãe comprar os alimentos e também comprava o açúcar mascavo. E como era gostoso o açúcar mascavo! Minha mãe escondia a lata de açúcar mas a gente sempre dava um jeito de encontrar para comer um pouco.
Além na miséria em que se encontrava a família o mundo vivia uma crise terrível. Tudo se comprava em um quilo. E a compra devia durar até o dia da próxima compra, ou ficar sem. É claro que eu não sabia nada disso. Só sabia que tinha que enfrentar fila e me preparar para apanhar quando a mãe descobria o “assalto” na lata de açúcar.
Quando íamos e voltávamos para a casa da criança sempre os três juntos, descalços, com aquela vontade danada de nunca chegar e ainda ter que ficar esperando o caçula que não queria andar; quando ele empacava, sentava na sarjeta e ficava ali até que o mais velho o colocasse de cavalinho, ou nas costas ou no pescoço para podermos caminhar.
Nossa entidade ficava distante de nossa casa de 500 a 600 metros. Mas pela demora parecia uma eternidade. Minha mãe só chegava do trabalho quando estava escuro e nós ficávamos brincando no calçada onde até deitávamos e acabávamos pegando no sono. Aí, um outro anjo de bondade, que se chamava Sussen, nós pegava e nos recolhia dormindo. Isso acontecia frequentemente. Um irmão da Sussen , Jamil, foi meu padrinho de crisma. Nessa época, também minha mãe recebia alguns alimentos dos Vicentinos.
Com oito ou nove anos, comecei a engraxar sapatos nas ruas do centro da cidade. Colocava na caixa a graxa preta e marrom, tinta preta e marrom, escova velha de escovar dente para passar a tinta e dois panos macios das dar o lustro no calçado. Devia haver um cuidado muito grande para não sujar as meias do cliente. Para evitar a sujeira da meia usava-se uns pedaços de cartolina flexível, que se colocava entre a meia e o sapato. Com isso a meia branca do cliente estava salva. Se ocorresse de sujar a meia corria-se o risco de não receber o valor do trabalho. Com esse dinheirinho conseguido com a caixa de engraxar dava para frequentar a matinê e, ás vezes, comprar uma pipoca ou sorvete e até um gibi.
A frequência no cinema nas chamadas matinês era obrigatória por causa dos seriados que eram apresentados em capítulos, um em cada domingo. Nessas sessões vespertinas do cinema, era exibido em geral um desenho animado, em seguida, um filme e, logo após, o seriado. No momento em que o mocinho aparecia na dela, era uma vibração e gritaria impressionante. Cada seriado tinha em regra de doze a quinze capítulos e quem perdesse um perdia o fio da meada. Aí, o jeito era perguntar para algum colega o que havia se passado e em que perigo teria terminado o capítulo. Durante a semana, o assunto era saber como o mocinho haveria de se safar da situação. Em toda a infância, assisti e acompanhei muitos seriados, mas ficou marcado para mim Os Perigos de Nyoka (para nós nioka e não naioka), Águia Branca, e a Deusa de Joba. Estes, consegui comprá-los quando já estava na casa dos sessenta anos. E confesso que foi com muita emoção que os assisti. Havia também um seriado que se me lembro tinha título de homem foguete. O mocinho usava uma espécie de foguete nas costas para poder voar. Era fantástico. Mas o que eu mais gostava era dos seriados de faroeste. Ver o cavaleiros montarem seus cavalos com o mesmo já galopando era demais. Mais tarde, morando em fazenda nunca tentei fazer o que havia visto nas telas. Nossas horas de lazer eram aplicadas jogando bola de meia na calçada que na época era de terra. Quando cimentaram a calçada acabaram com nossa alegria. Mas espaços com terra para se jogar bolinha de gude não faltava. Quando queríamos jogar bola, era só descer a rua um pouco e jogar no campo do Palmeiras que ficava onde hoje é o Grupo Escolar Dr. Lopes Rodrigues. Aí, quanto vezes não ficava embebecido de ver o Zerica, o Paulo Burini, Atílio Pengo, Caracol , Pintado, Madela irmão do Paulo Burini e outros meus deuses e heróis. Também brincávamos de pega-pega, esconde-esconde e, vez ou outra, também brincávamos junto com as meninas de passa anel, corre lenço. Era papel das meninas convidarem os meninos para brincarem com elas. Nessa tenra idade, já existia atração pelas meninas e eu ficava feliz quando era convidado para brincar. Mas nunca era a menina que gostava da gente quem nos convidava. Sempre vinha outra e dizia: a Terezinha pediu para você vir brincar com a gente. Nas brincadeiras de passa anel e corre lenço eu podia demonstrar meu interesse pela Terezinha deixando o anel em sua mão. Quando havia reclamação dos outros, a gente mudava um pouco. Brigas pra valer nunca houve e quando digo brigas falo dessas com socos, rolagem pelo chão ou nariz sangrando. Havia também os momentos de religiosidade que consistia em "celebrar missa". A turma se reunia, geralmente em nossa casa, e um de nós, meu irmão ou eu nos vestíamos de padre. A batina era um vestido da mãe, amarrado na cintura, para não pisar em cima. Cada criança que quisesse "comungar" deveria trazer sua hóstia de casa. Essas hóstias eram os fundos dos copinhos de sorvete. Eu levava muito a sério essas celebrações tanto que um dia levantei bem cedinho, ainda escuro, resolvido a falar com os Padres do Colégio que eu queria ser padre. Sentei na escada e esperei até que os portões fossem abertos. Naquele dia ficaram fechados e a ideia só ficou nisso. 
Os dias foram passando, o tempo passou e já na casa dos dez anos, de tão levado que eu era, minha mãe levou-me para morar no sítio com um tio. Fui sem reclamar e sem colocar objeções. Não lembro de ter reclamado ou chorado por causa disso. Pegamos o ônibus rural que fazia o trajeto de Jaú a Bocaina e saia as quinze horas e trinta minutos do mercado municipal. Meu tio morava no sítio do Fuzeti, distante uns dez minutos da cidade. No outro dia cedo, minha mãe voltou para Jaú e eu fiquei. Passei quatro ou cinco anos sem ver minha mãe e meus três irmãos. Confesso que, à noite, ás vezes eu chorava baixinho. Minha tia, irmã de minha mãe era muito carinhosa e me tratava como seu filho. Não fazia distinção entre os seus filhos e eu. Uma boa alma, eu diria hoje.
Nos primeiros dias, tive dificuldades nas rotinas da fazenda. Vivia-se a luz de lampiões de querosene. Mal escurecia, acendia-se os lampiões, fechava-se a casa e nada mais havia para ser feito, a não ser deitar na cama e dormir. Por conseguinte, no outro dia, levantava-se bem de madrugada. Quando começava á clarear o dia era um alívio.
Passado algum tempo, comecei a aprender os trabalhos do sítio. Comecei com os serviços leves, depois já selava o cavalo e rumava para a cidade de Bocaina levando o leite para o dono do sítio. Era um passeio e não um trabalho.
O cavalo em que eu cavalgava era branco totalmente, bem gordinho, super manso. Uma beleza de animal. No pasto o chamava pelo nome Branquinho vem, e ele calmamente vinha em minha direção para receber o cabresto e os arreios que eu mesmo colocava. Não corria nem que se lhe batesse. Ia no seu troteado calmo que muitas vezes você nem sentia que estava no lombo de um cavalo. Mais tarde um pouco, comecei a cortar o capim, carregar a carroça com o capim cortado por mim e descarregar na mangueira para as duas vacas com suas crias e dois cavalos, um pedrês com os pelos meio azulados, mais propriamente cinza claro, que era só de carroça, e o cavalo branco de sela no qual eu não conseguia por o pé no estribo para montar.

Dessa fazenda, meu tio se mudou para a Fazenda do Dr.Reis na Independência, mais propriamente no Tucumã, onde existiam duas casas somente. Ali, éramos meeiros, plantávamos arroz, feijão, algodão e milho. Cultivávamos uma horta, mandioca, batata, hortaliças e tudo o que se pudesse comer.  Vivia-se muito bem embora a luta diária fosse cansativa. Arar a terra com o arado puxado por animal, gradear a terra para desmanchar os torrões deixados pelo arado. Depois da terra pronta ficava a espera angustiante pela chuva, sem a qual não se podia jogar as sementes no solo pois corria-se o risco de não germinarem., Mas havia a compensação. Quando o arroz, o feijão e o milho começavam a brotar era aquela alegria interior por ver os resultados de seu trabalho. E como era gostoso andar no meio do milharal quando estava  alto já cobrindo a gente. E quando começam aparecer as bagas do feijão, as espigas do milho ainda pequeninas e o arrozal balançando suas espigas pra lá e pra cá, de acordo com o sentido do vento. Na hora de colher o milho se sofria muito. Além do pó que saia da palha ao se quebrar as espigas havia o mato alto com carrapichos e picão que grudavam na calça. Para retirá-los usava-se uma faca para raspá-los